Programa Carne Angus Certificada completa 20 anos em 2022 sob o comando de uma mulher gaúcha

A convite da Comissão Feminina do Sindicato Rural de Lavras do Sul, a médica veterinária e Gerente Nacional da Carne Angus Certificada, Ana Doralina Alves Menezes falou, durante a Expolavras, sobre os desafios da mulher no agronegócio e a pecuária brasileira.
A gaúcha, nascida em Santana do Livramento, foi criada na estância da família. O pai, zootecnista, desde muito cedo tinha a companhia da filha no dia a dia do trabalho no campo e em eventos como exposições, julgamentos e leilões. “Sempre soube que iria para uma das áreas do setor, mas quando chegou a hora de escolher foi meu pai quem ajudou a decidir pela Medicina Veterinária, dizia que já bastava ele como zootecnista e que precisava de uma veterinária pra ajudar nos negócios”, conta sorrindo.
Formada na Urcamp (Universidade da Região da Campanha), Ana é da quinta geração da família atuando na pecuária e hoje divide a paixão com o marido, Raul Abreu e os filhos Florência e Martin. “Temos uma propriedade arrendada em Bagé, então minha ligação com o campo se mantém muito forte”.
Ana Doralina é a primeira mulher a assumir como gerente do Selo Carne Angus Certificada, da Associação Brasileira de Criadores de Animais da Raça. “Me formei em 2002 e fui fazer uma pós graduação na Nova Zelândia. Quando voltei já foi para participar do programa Carne Angus”. Desde então a veterinária já passou pela desossa, supervisão da unidade regional, coordenação do Rio Grande do Sul, da Região Sul, e em 2019 assumiu a gerência.
“Quando iniciei minha carreira o frigorífico era um lugar tradicionalmente de homens, a mulher aparecia no controle de qualidade, mas na rotina de avaliar animais vivos, no abate, fazendo a parte operacional era novidade. Para o produtor lá nos anos 2000 era estranho, mas as coisas foram se construindo e hoje já é uma realidade”, enfatiza.
O programa completa 20 anos em 2022 e Ana Doralina comenta que o saldo é muito positivo. “Olho hoje para essas duas décadas e vejo algumas coisas, mas a principal é a capacidade da associação de vislumbrar uma possibilidade que é real. Isso é muito importante. Num primeiro momento tudo parecia uma loucura, mas a coragem de ser inovador mudou o cenário da pecuária brasileira”.
Ela avalia que muito do que hoje se usa como parâmetro de qualidade no setor foi exemplo do que se faz no programa carne angus. “Se falarmos sobre isso, esses padrões de qualidade, eles vêm dessa iniciativa. Antes nem mesmo o produtor sabia o que eram padrões de qualidade, então comunicar tudo isso leva o conhecimento e informação para todos, consequentemente o reconhecimento para quem produz”, ressalta.
De acordo com a gerente do programa, a carne angus prova todos os dias que é possível se produzir uma raça europeia, de norte a sul. “Hoje o programa conta com duas unidades no Pará, um lugar onde jamais imaginaríamos. Então são coisas que mudaram dentro do sistema de produção e que vêm melhorando e evoluindo dentro da pecuária. A produtividade, a genética, todos os sistemas estão focados em produzir mais e melhor”, conclui.
Para Ana Doralina o trabalho que realiza hoje é a concretização de vários sonhos. “Hoje temos muitos exemplos de mulheres que trabalham nesse cenário, produtoras extremamente capacitadas e que fazem uma pecuária muito moderna, ágil e com um toque feminino, então é um privilégio estar nesse lugar e representando tantas de nós”, comenta.
“Acredito que tudo é um somatório das coisas que a gente constrói na vida, e as lembranças da infância renascem cada vez que vou para o campo e que levo meus filhos. Todas as vezes que entro em contato com nosso pampa me desperta esse amor nas coisas que a gente faz. Fora a gratidão por essa capacidade que a gente tem de produzir num ecossistema tão lindo e que vem sendo preservado há anos.”