Os últimos dois anos foram complicados em vários aspectos. Devido à pandemia da covid-19, instituições tiveram que se reorganizar e aplicar metodologias diferentes na maneira de conduzir os trabalhos. Não foi diferente para o Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Em entrevista à plataforma Abascal Rural, o Presidente da entidade, João Rui Dias Nunes, nos contou como foi este último ano e quais as expectativas para 2022.
Abascal Rural – João Rui, de que forma a pandemia da covid-19 impactou no Sindicato?
João Rui – Como para a maioria das entidades, foram dois anos bem difíceis. Mas na verdade há alguns anos sofremos com perdas de direitos trabalhistas na área previdenciária, e graças a muita luta da nossa Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (FETAG), da nossa regional e dos nossos sindicatos, a gente vem conseguindo manter a nossa estrutura, manter nosso quadro social e os serviços que prestamos aqui no Sindicato.
AR – Quais os tipos de serviços o associado ao Sindicato tem acesso?
JR – Quando os sindicatos surgiram na década de 60, era oferecido somente serviço médico/odontológico. Hoje também prestamos um serviço social e previdenciário muito importante. Somos conveniados ao INSS, então hoje o trabalhador não precisa mais ir até Bagé. Encaminhamos todos os tipos de benefícios e não só da área rural. A questão do crédito rural também, hoje os “pronafianos” só vão ao banco para receber o benefício. A Emater faz o projeto técnico e nós montamos o projeto financeiro. E na área da saúde: médico clínico geral, dentista, cardiologista, traumatologista e ortopedista, otorrino, oftalmo, além do convênio com vários municípios da região para todos os tipos de exames e atendimento de outros profissionais especialistas.
AR – Atualmente qual o número de associados do Sindicato?
JR – Associados temos em torno de 2000 pessoas, mas em dia 1000. Em 2019 iniciamos um roteiro de visitas, para resgatar alguns associados, mas infelizmente tivemos que interromper devido ao início da pandemia. Esse trabalho de base é essencial, porque muitas vezes o produtor não tem tempo de vir até o Sindicato. Então estávamos indo de propriedade em propriedade reorganizando o quadro social, e vendo de perto quais as reais necessidades de cada um, para trazer como benefício o que realmente lhes interessa.
AR – Quais projetos já estão em vista para 2022?
JR – Estamos trabalhando e vamos continuar no próximo ano um projeto de melhoramento de campo nativo, via FETAG e outros parceiros. Atualmente, são 16 propriedades de pecuaristas familiares já atendidas com todas as questões de assistência técnica, visita, análise de solo e depois de investir o que for necessário, seja calcário, ou enfim, o que for possível para melhorar o campo nativo local. Nos últimos anos, com o avanço das plantações de soja, a nossa pecuária, principalmente a pecuária familiar, não está conseguindo ampliar seu espaço. Então nós temos que trabalhar em propriedade de igual tamanho, porém com maior índice de lotação. E já estamos fazendo esse trabalho. Para 2022 pretendemos aumentar de 16 para até 50 famílias atendidas.
Outro projeto que já estamos iniciando e iremos dar prosseguimento é o Terra Brasil. Ele iniciou nos anos 2000, através do Banco da Terra, e naquela época conseguimos atingir o maior número de beneficiados. Depois houve a troca de nome para Crédito Fundiário e agora virou Terra Brasil. Já capacitamos três turmas de 20 pessoas. Nessa capacitação explicamos o que é o benefício, quem se enquadra, até quanto de recurso se pode acessar, o tempo para pagar e valores de parcela, além do tipo de solo e o que pode ser feito em cada propriedade, para que o produtor não erre na hora de escolher receber o benefício. Neste mês ainda temos mais duas turmas recebendo essa capacitação, uma no Ibaré e outra aqui na cidade. Serão praticamente 100 trabalhadores orientados nessa questão.
AR – João Rui, o Sindicato sempre trouxe muitos cursos de formação profissional. Em que situação eles estão atualmente?
JR – Temos demanda para reiniciar os cursos, em parceria com Prefeitura, Sindicato Rural e SENAR-RS. Inclusive já estamos organizando junto à Prefeitura para que seja reestruturada a Comissão Municipal de Emprego, pois através dela conseguimos trazer muitos cursos, não só para o meio rural, mas também para o trabalhador urbano.
AR – Hoje, se um trabalhador quiser se associar, como funciona?
JR – Temos vários tipos de associados. O agricultor e pecuarista familiar, desde que tenha quatro módulos fiscais (o que equivale a 140 hectares), pode se associar. É um enquadramento para fins de Pronaf e aposentadoria, e ele precisa trazer o talão modelo 15 e documentos pessoais. O assalariado rural se associa através da carteira de trabalho devidamente assinada. E por fim o aposentado rural, que pode se associar apenas com o número do benefício.
AR – Quer deixar uma mensagem final para os leitores da plataforma?
JR – É importante dizer que temos a FETAG, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) e no nosso Estado a divisão de 23 regionais. O Sindicato de Lavras do Sul pertence à Regional Fronteira, que é composta por 11 sindicatos de 17 municípios. Desses 11, Lavras é o menor município, e hoje em matéria de Sindicato, número de associados e prestação de serviços, estamos em 3º ou 4º lugar. Isso se deve principalmente à conscientização do nosso trabalhador, de saber que a gente não faz nada sozinho. Precisamos ainda aumentar essa consciência, mas já temos um quadro social consolidado e que sabe que se não houver o Sindicato para lutar e defender seus direitos fica muito mais difícil.